terça-feira, 18 de outubro de 2011

A cebola e o choro

Allium cepa! Um nome pomposo para um alimento tão utilizado na gastronomia portuguesa: a cebola. Este alimento tem diversas particularidades que nos fazem utilizá-lo em quase todos os nossos cozinhados. No entanto, provavelmente já deve ter notado que a cebola não tem um cheiro muito activo antes de ser cortada. Contudo, depois de cortada segue-se um cheiro terrivelmente forte que amiúde nos faz chorar.

Os compostos libertados que nos fazem chorar são os mesmos que protegem a cebola de elementos de níveis superiores da cadeia alimentar. A formação destes compostos é o resultado da acção de uma enzima que está isolada em bolsas, a alinase. Quando a cebola é cortada, as bolsas que contêm as enzimas são também rompidas. Por acção da alinase, os sulfóxidos de aminoácidos (derivados da cisteína) presentes noutras bolsas isoladas e rompidas reagem formando ácidos sulfénicos.


Estes ácidos possuem uma grande volatilidade e, por isso, são libertados como gases que reagem com a água presente nos nossos olhos, formando ácido sulfúrico em muito baixas concentrações. Todavia, apesar de se formar com concentração baixa, este ácido irrita imediatamente os terminais nervosos nos nossos olhos. A resposta imediata do nosso organismo é a de diluir os ácidos nos nossos olhos e, para isso, produz água em excesso para o efeito (as lágrimas).

Ora, se a produção de água pelo nosso organismo é a primeira linha de defesa contra este efeito, então cortar cebolas debaixo de água corrente minimiza os efeitos nos receptores nervosos dos nossos olhos. Se preferir, pode também utilizar óculos de natação para que o gás não chegue aos seus olhos, embora isso talvez seja pouco prático.


No entanto, uma solução inusitada mas eficaz é colocar a cebola no congelador antes de ser cortada (cerca de 1 hora). Isto acontece porque a actividade enzimática da alinase diminui com a diminuição da temperatura. Ao cortar uma cebola muito fria, a actividade da alinase é minimizada e, consequentemente, a produção do gás que nos provoca as lágrimas é francamente diminuída.

Baseado no livro "A cozinha é um laboratório" de Margarida Guerreiro e Paulina Mata.

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