segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Uma peça de teatro sobre segurança no laboratório

Por que não reflectir um pouco nas asneiras que muitos fazem nos laboratórios de Química?
Nada melhor do que a adaptação em português, da minha autoria, de uma peça de teatro que pode ser representada em qualquer escola:


Uma rapariga, vestida com roupa nova e sandálias, encontra-se numa bancada de laboratório desorganizada com uma mala e uma lancheira. Um rapaz, de calções e sandálias, entra e cumprimenta-a. Eles são companheiros de laboratório e têm que realizar uma experiência, relativa a uma aula a que faltaram. Foram para o laboratório sem conhecimento do professor. Ela estava a usar os óculos de segurança como bandelete, enquanto aquecia um tubo de ensaio (com a boca virada para ela), cheio de um líquido colorido, sobre uma chama muito alta de um bico de Bünsen. Junto do bico de Bünsen encontra-se um frasco de um reagente com o rótulo “ÉTER”.

Ela: Caramba, pensei que nem vinhas, por isso fui começando a experiência.

Ele: Desculpa o atraso mas o meu prof. nunca mais se calava. Preciso mesmo de fumar um cigarro. Tens lumes?

Ela acende o cigarro dele com o bico de Bünsen. Ele depois coloca o cigarro aceso perto do frasco de éter.

Ela: Olha, eu trouxe alguns snacks para comermos durante a tarde. Queres um? Toma lá umas batatas fritas.

Ele: Obrigado, estou esfomeado... ... ... Bah, estão sem-sal. Tens aí sal?

Ela: Sim, um destes reagentes é cloreto de sódio.

Ela olha para dois frascos que contém sólidos brancos.

Vamos lá ver qual deles é que é.

Eles colocam os dedos dentro dos frascos e provam cada um dos sólidos.

Se quiseres, tens aqui um sumo para partilharmos.

Enquanto ele abre o refrigerante e coloca quantidades iguais em duas provetas limpas, ela põe batom.

Ele: Bem, acho que é melhor começarmos porque senão nunca mais saímos daqui. Sabes qual é a experiência que temos que fazer?

Ela: Sim acho que é aquela sobre titulações. Trouxeste o teu manual de laboratório? Esqueci-me do meu.

Ele tira o livro da sua mochila e dá-lhe. Ela folheia o livro e encontra a experiência.

Aqui está. Titulações ácido-base. Aqui diz que é preciso pipetar 25 mL de ácido clorídrico para um Erlenmeyer. Qual deles é que é?

Ele pega num frasco (já com a boca partida), depois muda de ideias, pousa o frasco no sítio e resolve pegar noutro que não está partido.

Ele: Aqui está.

Ela: Ok.

Ela lê um pouco mais no manual.

Porque não fazes isso enquanto eu encho uma bureta com a solução de hidróxido de sódio?

Ele pipeta o ácido com a boca directamente do frasco do reagente. Ele deixa a rolha do frasco na banca. Ao encher a bureta, ela derramou hidróxido por toda a bancada e limpou tudo com as mãos, colocando o excedente de hidróxido no frasco do reagente. Entretanto continua a ler o procedimento no manual.

Agora aqui diz para diluir o ácido com 30 mL de água e misturar bem.

Ele mede o volume de água e coloca na solução ácida.

Ele: Arranja-me qualquer coisa para agitar.

Ela entrega-lhe o termómetro, e ele mexe o ácido e a água com ele. Ele limpa o termómetro na sua camisa.

Ela: Agora temos que adicionar gradualmente o hidróxido ao ácido até ao ponto final.

Ela começa por adicionar rapidamente hidróxido da bureta mas não verifica mudança de cor. Eles continuaram a adicionar até esvaziar a bureta.

Ele: Caramba, isto não parece estar a funcionar. Deve haver qualquer coisa de errado com estes compostos.

Ele tira a rolha dos frascos de reagentes e começa a cheirar.

Humm... Parecem-me ok. Tens a certeza que leste todo o procedimento?

Ela folheia freneticamente o manual de laboratório.

Ela: Penso que li tudo. Ah! Se calhar esquecemo-nos de alguma coisa. O que é um indicador?

Ele: Isso quer dizer que vamos ter que começar tudo de novo?

Ela começa a olhar para o peróxido de hidrogénio e para o iodeto de potássio.

Ela: Humm... Vamos nos divertir um bocado. Gostava de saber o que acontece quando misturo estes dois compostos.

Ela coloca cerca de 50 mL de H2O2 num gobelé de 100 mL que tinha 5 mL de detergente para a loiça.

Ele: Acho que não devias fazer isso.

Ela: Oh, não te preocupes. Os professores não devem deixar nada perigoso no laboratório, não achas?

Ela adiciona uma espátula de KI ao gobelé. Eles observam espantados enquanto uma grande coluna de espuma sobe e transborda o gobelé.

Ele: Oh!!! Acho que é melhor livrarmo-nos das provas e voltar noutro dia.

Eles viraram tudo pelo esgoto da banca e saíram sem lavar o material.

Adaptado de Patricia S. Hill, Thomas G. Greco, J. Chem. Educ.72 (12), 1126 (1995).

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