Por que não reflectir um pouco nas asneiras que muitos fazem nos laboratórios de Química?
Nada melhor do que a adaptação em português, da minha autoria, de uma peça de teatro que pode ser representada em qualquer escola:
Uma rapariga, vestida com roupa nova e
sandálias, encontra-se numa bancada de laboratório desorganizada com uma mala e
uma lancheira. Um rapaz, de calções e sandálias, entra e cumprimenta-a. Eles
são companheiros de laboratório e têm que realizar uma experiência, relativa a
uma aula a que faltaram. Foram para o laboratório sem conhecimento do
professor. Ela estava a usar os óculos de segurança como bandelete, enquanto
aquecia um tubo de ensaio (com a boca virada para ela), cheio de um líquido
colorido, sobre uma chama muito alta de um bico de Bünsen. Junto do bico de
Bünsen encontra-se um frasco de um reagente com o rótulo “ÉTER”.
Ela: Caramba, pensei que nem vinhas, por isso fui começando a
experiência.
Ele: Desculpa o atraso mas o meu prof. nunca mais se calava.
Preciso mesmo de fumar um cigarro. Tens lumes?
Ela acende o cigarro dele com o bico de
Bünsen. Ele depois coloca o cigarro aceso perto do frasco de éter.
Ela: Olha, eu trouxe alguns snacks
para comermos durante a tarde. Queres um? Toma lá umas batatas fritas.
Ela: Sim, um destes reagentes é cloreto de sódio.
Ela olha para dois frascos que contém
sólidos brancos.
Vamos lá ver qual deles é que é.
Eles colocam os dedos dentro dos frascos e
provam cada um dos sólidos.
Se quiseres, tens aqui um sumo
para partilharmos.
Enquanto ele abre o refrigerante e coloca
quantidades iguais em duas provetas limpas, ela põe batom.
Ele: Bem, acho que é melhor começarmos porque senão nunca mais
saímos daqui. Sabes qual é a experiência que temos que fazer?
Ela: Sim acho que é aquela sobre titulações. Trouxeste o teu manual
de laboratório? Esqueci-me do meu.
Ele tira o livro da sua mochila e dá-lhe.
Ela folheia o livro e encontra a experiência.
Aqui está. Titulações ácido-base.
Aqui diz que é preciso pipetar 25 mL de ácido clorídrico para um Erlenmeyer.
Qual deles é que é?
Ele pega num frasco (já com a boca partida),
depois muda de ideias, pousa o frasco no sítio e resolve pegar noutro que não
está partido.
Ele: Aqui está.
Ela: Ok.
Ela lê um pouco mais no manual.
Porque não fazes isso enquanto eu
encho uma bureta com a solução de hidróxido de sódio?
Ele pipeta o ácido com a boca directamente
do frasco do reagente. Ele deixa a rolha do frasco na banca. Ao encher a
bureta, ela derramou hidróxido por toda a bancada e limpou tudo com as mãos,
colocando o excedente de hidróxido no frasco do reagente. Entretanto continua a
ler o procedimento no manual.
Agora aqui diz para diluir o
ácido com 30 mL de água e misturar bem.
Ele mede o volume de água e coloca na
solução ácida.
Ele: Arranja-me qualquer coisa para agitar.
Ela entrega-lhe o termómetro, e ele mexe o
ácido e a água com ele. Ele limpa o termómetro na sua camisa.
Ela: Agora temos que adicionar gradualmente o hidróxido ao ácido
até ao ponto final.
Ela começa por adicionar rapidamente hidróxido
da bureta mas não verifica mudança de cor. Eles continuaram a adicionar até
esvaziar a bureta.
Ele: Caramba, isto não parece estar a funcionar. Deve haver
qualquer coisa de errado com estes compostos.
Humm... Parecem-me ok. Tens a
certeza que leste todo o procedimento?
Ela folheia freneticamente o manual de
laboratório.
Ela: Penso que li tudo. Ah! Se calhar esquecemo-nos de alguma
coisa. O que é um indicador?
Ele: Isso quer dizer que vamos ter que começar tudo de novo?
Ela começa a olhar para o peróxido de
hidrogénio e para o iodeto de potássio.
Ela: Humm... Vamos nos divertir um bocado. Gostava de saber o que
acontece quando misturo estes dois compostos.
Ela coloca cerca de 50 mL de H2O2
num gobelé de 100 mL que tinha 5 mL de detergente para a loiça.
Ele: Acho que não devias fazer isso.
Ela adiciona uma espátula de KI ao gobelé.
Eles observam espantados enquanto uma grande coluna de espuma sobe e transborda
o gobelé.
Ele: Oh!!! Acho que é melhor livrarmo-nos das provas e voltar noutro
dia.
Eles viraram tudo pelo esgoto da banca e
saíram sem lavar o material.
Adaptado de Patricia S. Hill, Thomas G. Greco, J. Chem. Educ., 72 (12), 1126 (1995).
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